14 de abril de 2009

Fim do blog e de tantas outras coisas.
A partir de agora,
esse blog fica
(no passado)

[...]

13 de abril de 2009

Naquele fim de tarde de tempo nublado e vento gelado alguns pensamentos pairaram seu coração e pensamento. Ao olhar as fotos sobre a mesa, ela finalmente havia entendido que muita coisa havia gelado. Havia entendido que muita coisa havia mudado. E tinha entendido então, que muitas vezes, mudar é sinônimo de gelar o coração na mais pura incoerência temporal. E o sensível coração da menina brigou com os olhos e começou a entrar em um processo experimental de putrefação. E ela pressentiu que tudo aquilo era essencial pra que não sobrassem resquícios de lamentações de um passado revirado. Tudo doía e parecia interminável. Os dias passavam lentamente sem distinção de cores ou estações. Não havia frio na barriga, e os relatos eram sempre no tempo passado regado à umidade no canto dos olhos. Havia, no lugar do frio na barriga, uma dor ponte-aguda que ela não sabia dizer bem a onde, porque ás vezes a dor parecia se generalizar no corpo todo. Era do tipo dor física que se alastrava pra alma, coração, mente, e qualquer que fosse a denominação pra aquilo tudo.

Mas ela havia entendido. Que pra se refazer é necessário se desfazer. E a putrefação, era mais que necessária para a recomposição.
Uma pergunta que tine
(todas as manhãs)
e no decorrer de todas as noites de insônia:

"-Isso tudo vai passar um dia??"
.
.
.
Eu já não vejo a hora
Eu já não vejo a
Eu já não vejo
Eu já não
Eu já
Eu
[...]
A única pessoa que continua presa nesse emaranhado todo.
As palavras escapam quando a gente mais precisa delas,
e na ausência delas,
por quê não entender o silêncio?
Ele tem tanto a dizer [...]

12 de abril de 2009

A estranha sensação do não-ser.
A estranha demanda doída do estar-só.
A estranha dor da saudade-e-de-não-querer.
A estranha sensação de que o desencontro do dia-a-dia
tem se tornado rotina.





A gente tem a tendência de, sem perceber, deixar as coisas como estão.
A gente tem a tendência de, mesmo ao perceber, deixar as coisas como estão.

11 de abril de 2009

9 de abril de 2009

"o pior era ela saber que ele sabia mas nunca quis".










[...]

8 de abril de 2009

"the sun again"

Apesar do mal estar, apesar das dores, impossível não passar "aqui" (sabendo que você me lê, ainda que esporadicamente e sem a minha permissão, hehehe) e agradecer pelo "colo" e por me permitir "repousar" quando preciso, ainda que, sua paciência esteja um pouquinho "deslocada" e eu ainda esteja aprendendo a lidar com isso, depois de tão pouco tempo de convivência (continuada).

=) Obrigada por entender (também) os feriados tumultuados pela frente. Logo, logo (cruzemos os dedinhos) teremos feriados divertidos na chácara (quem sabe?!?), ou seja lá onde for[...].

"And I promise you you'll see the sun again"

5 de abril de 2009

Vida doce (solidão)






















"eu deixo tudo sempre pra fazer mais tarde
e assim eu caminho no tempo que bem entender
afinal faz parte de mim ser assim.
mais um pouco e vai dar sinal
brinco de esconder
caminho de fé
não vou mais só no que a vida me traz

vida que é doce levar o caminho é de fé
diga que eu não vou
onde você for vida me leva
e todo sentimento me carrega"



Obrigada a você "Ié" pela doce companhia [...]
=]

4 de abril de 2009

2 de abril de 2009




















E no lugar de buscar entender melhor os "atos administrativos" volto o olhar para os livros de Clarice [...] E assim, em plena quinta-feira-de-metas, eu com um livreto literário. Onde eu vou parar? :/

"... estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda."


"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo -quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."

1 de abril de 2009

Segundo Ato

Sim. Um dia de cada vez! Mas não posso esconder minha expectativa para essa próxima sexta! Dia lúdico de Teatro Mágico! O Segundo Ato!





















"A trupe criada por Fernando Anitelli, se propõe nesta segunda etapa a entrar mais a fundo nos dabates que cercam a sociedade desigual e desumana que nos rodeia. Procurando explorar a questão do livre compartilhamento das músicas na Internet defendendo a bandeira da musica livre, o Teatro Mágico passa a se apresentar com um perfil mais questionador e contestador. Nesta nova fase, é como se a trupe chegasse no universo urbano com mais profundidade , como o cotidiano dos moradores de rua citados na canção “Cidadão de Papelão” ou a problemática da mecanização do trabalho, citada no “Mérito e o Monstro” entre várias outras abordagens. Indo mais além, há um debate sutil e, por vias opostas, mordaz, sobre o amontoado de informações que absorvemos, sem perceber, assistindo aos programas de TV. Essas transformações não poderiam, no entanto, encobrir o universo lúdico e fantasioso da trupe, mas sim, acrescentar uma pitada de realismo no conteúdo em geral, incorporando o lema de endurecer sem jamais perder a ternura."

Retirado do Site: http://www.oteatromagico.mus.br/

Quem sabe da próxima, uma boa foto, da minha autoria.
=)

Trecho da música
O Teatro Mágico
A Primeira Semana
[...]
Fez dessa terra um cenário
Pras peças que nos pregaram
Fez bico de pena e diário
Pra escrevermos a regra e a exceção
Criou o perdão e o pecado

Criou a dor e o prazer
Criamos o certo e o errado
E o orgulho pra nos esconder
Do que prevalece em nós
Exílios calados, quimeras que exalamos sós

E tudo que eu criar pra mim
vai me abraçar de novo na semana que vem
E tudo que eu criar pra mim
vai me abraçar de novo
Vai me negar também semana que vem

Antes que o tempo, a clave, sustenidos e bemóis
Antes do inteiro, a metade
Uma outra parte de nós
Antes do vôo, o tombo
Um “uta” pra não chorar
Antes tarde do que nunca, pra nunca mais demorar

E o que prevalece em nós....
Eu não olho mais para trás
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
(assim como hoje é 1º de abril).



"olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás."

30 de março de 2009

Mês longo, de solidão. Ao som de um jazz melancólico e dias de semana-todos-iguais. Os dias tem passado, as dores também. Ficam na minha vida pessoas que fizeram valer as boas batidas ritmadas do meu coração-cruel-e-maldoso-de-boa-vilã-de-novela.

Nem sempre eu tive certeza, mas a dúvida (ainda) por vezes chega a corroer com a sua minuciosa crueldade. É o que dizem os sábios-sensores-comuns "pior do que a certeza doída é a dúvida mal resolvida". Mas para o meu bom auto-alívio, sinto dias de calor, aconchego, enxergo cores, consigo estender as mãos e carregar no peito um coração mais leve e bonito.

Ao Caio, se pudesse, escreveria-lhe cartas dizendo que suas palavras me aconchegaram em dias de extrema tristeza e solidão. Ele 'imprimiu' meus sentimentos com suavidade, e assim, a solidão parecia doer menos. E por isso, tantos trechos, e quantos mais forem necessários eu peço emprestado à esse escritor-tradutor-de-carne-e-osso.

E aos poucos amigos (poucos e bons)- reais e leais, sussurraria um obrigado doce (com olhinhos umedecidos) por cuidarem de uma trogloditazinha (como eu) levando em conta apenas o meu limite-suportável[...]

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."

Que venha logo Abril, Maio, Junho...
Que o tempo passe
E que logo, essa fase,
não passe de um passado
(bem-resolvido)
e sem dor.

29 de março de 2009

Obrigada a você por compartilhar comigo seus medos e sentimentos secretos-doloridos numa noite de domingo chuvoso de março...

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias,
e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital".Pois esse impulso, às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como "estou contente outra vez"."

[...] dias de sol, dias-não-tão-cinzas-por-dentro!

Domingo [...]

" ... A cabeça encostada no travesseiro, espiava o dia crescendo...
- Hoje é domingo - disse.
-Dia de dormir até tarde. - E dormiu."

(trechos de Inventário do Ir-remediável » Da Solidão » O Coração de Alzira)

28 de março de 2009

27 de março de 2009

Sinto que roubaram meu mundo de dentro de mim.

24 de março de 2009

NÃO PISE NA GRAMA

Placa inútil e amarela:
"Não pise na grama."

Amarela
pela ausência de girassóis.

Inútil
porque não tenho os pés no chão.

(Fabio Rocha)

23 de março de 2009

Sim à dias melhores, mais alegres, sem dor, com colo, amor, lente de cores, sorriso, coração leve, diversão, estudo, metas, gentileza, olho nos olhos, toque, seguir em frente, doçura, partilha, sinceridade, lado-a-lado, verdade, capacidade de amar, acolhimento, parceria. Não aos dias de mágoas, tristezas, hipocrisias, esnobismos, falsidades, incapacidade de compreensão, desamor, falsos julgamentos, mentiras, covardias, invejas, maledicência.

Quero ter por perto gente que sente, gente que é feito-de-carne-e-osso. Quero estar mais pertinho de Deus.

=)

Família (nuclear), poucos amigos, fé em Deus e fluoxetina.

E tudo bem!

18 de março de 2009

17 de março de 2009

"Carta"

[...]


Eu sei que muitas vezes você pensa que eu não te "ouço" (no sentido real de trazer aquilo que você diz "pra dentro"...). De fato sou racional "por demais" (hehehe), mas tento a minha maneira ruminar o que vc diz (levando em consideração que você é uma pessoa cheia de significados pra mim...).

Tenho sentido que, apesar das nossas discussões e desentendimentos, as nossas conversas tem se aprofundado mais. Tenho sentido que a compreensão quanto "ao que eu sou e quanto ao que você é" tem se ampliado (com base no princípio da reciprocidade).


E sobre o perdão especificamente (quanto aos fatos acontecido em nossas vidas), essas palavrinhas resumem muito bem a minha expectativa:

[…] fiquei imaginando se era assim que brotava o perdão, não com as fanfarras da epifania, mas com a dor juntando as suas coisas, fazendo as suas trouxas e indo embora, sorrateira, no meio da noite.

- Khaled Housseini in “O Caçador de Pipas”


A minha real expectativa é que o perdão aconteça assim, sem muitos esforços. Um dia simplismente a mágoa vai embora, o coração fica mais leve e pronto. Passou. O que outrora parecia tão cheio de significados, já não é. Eu sei que a mágoa passa, que o perdão automaticamente é acionado. Não qdo a gente espera, pelo contrário [...] quando a gente não espera nada, de repente pára de doer.


Meu coração é meio pedra gelada pra isso, hehhe. Essa descrição é óteeema [...] Mas eu até sei (e por isso me tranquilizo) que ele é quentinho e mole (feito gelatina) para outras coisas. Mas eu prometo que um dia eu melhoro. Os dilemas passam, as dores passam, e no final das contas o que fica "na gente" é o mais "essencial e verdadeiro"; acho que já li em um versinho (de Clarice Lispector) "Depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica em mim é sempre o essencial e verdadeiro".


Deu pra entender, Chuchu??
Obrigada por tornar minha vida suportável.
Eu sei que logo adiante os dias serão melhores.
Eu juro que espero por isso (com o coração na mão batendo bem rapidinho impulsionado por minha incômoda ansiedade)

Escrevi pq deu vontade de escrever pra vc. Acho até que é pelo motivo de ter retomado alguns trechos de "O Caçador de Pipas" e pensar que você pra mim , assemelha-se muito mais a Hassan, e eu a Amir. Acho que não preciso explicar os motivos.

Mas, para mim, aquela era a única chance de me tornar alguém que era olhado, e não apenas visto; que era escutado, e não apenas ouvido.

- Khaled Hosseini
^


E mais uma vez, obrigada por tudo. Estou tentando colocar em prática a regra de demonstrar os sentimentos à quem a gente ama enquanto estão por perto (ainda que essa tal pessoa corra o risco de me decepcionar um dia...)

Tenha paciência comigo quando eu digo que minhas decepções estão latentes e doloridas. Um dia toda essa "ruindade sentimental" passa e meu coração estará "novinho em folha".


[...]

Pra você que escuta o meu coração tocando em "notas menores e melancólicas" e aceita com toda a doçura do mundo. Obrigada por ombros e lenços [...]

Resposta




Amar é mudar a alma de casa.





Mário Quintana
(In Sapato Florido)

16 de março de 2009

Palpite

Algumas histórias de amor acabam. Algumas histórias que eram de amor acabam tomando rumos diferentes [...] E eu pergunto se histórias de amor podem tornar-se história de mágoas, história de decepção, história de desconfiança, história de deslealdade, história de arrependimento, história de tristeza, história de solidão [...]

Diante de transformações corriqueiras, define-se que histórias de amor que decompõe e ramificam para outras histórias como essas, não podem ter sido verdadeiramente história de amor.

12 de março de 2009

"Faz um milagre em mim"...


Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

- Caio F. Abreu in “Os Dragões não Conhecem o paraíso”.


Alívio póstumo.
=]
E um leve sorriso de canto (no rosto).

11 de março de 2009

Acordo
Arnaldo Antunes

Concordo
Discordo
Acordo

4 de março de 2009

PAZ

Vou sem pressa
para a casa
que há em mim.

(Fabio Rocha)

2 de março de 2009




"Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço.A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poçodo poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê..."

Já nem cito Caio. É obvio.

=0
Março...
Humpf
(E um suspiro cicatrizante...)

18 de fevereiro de 2009

Os insetos interiores incomodam lentamente e vão deixando as marquinhas peçonhentas no coração [...]



(O Teatro Mágico)


-Os insetos interiores-a futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos.
Nocivos.
Poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia
o veneno se refugia no espelho do armário - lembrou um deles.
o ninho deve estar infectado! – lembrou outro.
Antes do sono: o beijo de boa noite.
Antes da insônia: a benção.
Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa: a família.
São soníferos...
Chagas sem curas.
Não reproduzem. são inférteis, infiéis, infertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas.
cortam os troncos
Urinam nos rios
E na soma dos desagravos, greves e desapegos,
esquecem-se de si.
Pontuam-se.
A cria que se crie!
A dona que se dane!

Os insetos interiores proliferam-se assim... na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estomago
a sensação de... ? O que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformado parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada que romper
com as correntes de preguiça e mal dizer
Silenciam-se no holocausto da subserviência,
O organismo não se anima mais.

E assim, animais ou menos assim...
Descompromissados com o próprio rumo,
desprovidos de caráter e coragem
desatentos ao próprio tesouro...
Caem.

Desacordam todos os dias
não mensuram suas perdas e imposturas!
Não almejam.
Não alma.

Já não mais amor.

Assim são:
Os insetos interiores

17 de fevereiro de 2009


Ás vezes o melhor papel que a gente consegue no circo é aquele papel de palhaço sem graça [...]

9 de fevereiro de 2009

"Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio".


"Chorei três horas, depois dormi dois dias.Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total."

Pôxa Caio!

[Pausa]
e o ponto tardio.

4 de fevereiro de 2009

Preciso urgentemente de um upgrade!

No coração e nos eteceras [...]
Ai ai.

2 de fevereiro de 2009

" O sonho pelo qual brigo exige que eu invente em mim coragem de lutar ao lado da coragem de amar" (Paulo Freire)

31 de janeiro de 2009

Canção Áspera ( Letra )
Skank
( Samuel Rosa / Chico Amaral )

Não espere nada
Seja o que for
Estou só de passagem
Breve é o amor

Não espere o dia
Deixe como está
Sigo essa miragem
Não sei a razão

Não espere nada
Deixa assim então
Sei que o mundo é oco
Menos que a paixão

Não sou nada disso
São desejos seus
Não será difícil
Breve é o adeus

Vim com minhas noites
Vou sem seu perdão
Sigo essa miragem
Não espere não

It’s a lonely way
It’s a rugged song
I woke up today
I knew it would be long

[...]

Dias mais leves!

22 de janeiro de 2009

"Pra quem aprender a amar"

Um textinho aí, simples, mas com um sentido legal! =)


TÁVOLA, Arthur da. "Para quem quer aprender a amar". In: COSTA, Dirce Maura Lucchetti et al. "Estudo de texto: estrutura, mensagem, re-criação". Rio, DIMAC, 1987. P. 25-6)



"Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender. Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva. Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras. Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebem ameaçados apenas e tão-somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo do amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, eqüidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão. Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito. Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião
alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, 'aquela conversa importante que precisamos ter; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para
quem ama, toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter. Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como a criança de nariz encostado na vitrina cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor; ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora. Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente.
Jogue por alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteira, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz."

[...]

11 de janeiro de 2009

Que 2009 seja um pouco melhor e mais leve (e um sorriso no rosto).