22 de março de 2007


[Outono é a estação do ano que sucede ao Verão e antecede o Inverno]... Essa semana o Outono chegou. Teoricamente acho esta uma das mais belas estações do ano. Teoricamente porque no Brasil não se vê tantas diferenciações entre as estações. Nada mais que contiguidade- algumas mudanças nítidas nos meus planos ao lado da chegada da nova estação, e confesso que assim me sinto mais feliz. Saudade por todos os lados, mas o real conforto cabe bem no canto de cá. Poderia encher a página enumerando os ganhos, dentre eles: Pais [família], Max, academia, alguns poucos amigos, nutricionista, Beréia, Outono, correr atrás [...] Nessa ordem mesmo.



A saudade é salgada. Se faz doce somente quando optamos para que ela assim seja.

19 de março de 2007


Em Goiânia só chove, chove e chove [espaço...] Após a chuva um sol brilhante com aquela cara amarela de que nada aconteceu. Uma sincronia entre sol e chuva deliciosa. Goiânia é linda, assimétrica, quente e desorganizada. Confesso que quando estou aqui sinto saudade de tão poucas coisas em Brasília que parece que a cada vez que eu venho me distancio um pouquinho, das pessoas, dos sonhos, dos projetos e também das frustrações.
...
Pra finalizar:

Uma Crônica

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e a dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.
E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e a ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti)

18 de março de 2007


Não sei quem é o autor da idéia de que os amigos se convertem em ladrões do nosso tempo. E para os últimos tempos de marasmo- têm sido perfeitos os curtos períodos roubados e cedidos. A Beta chegou e com ela muitas boas recordações, um colo amigo e aconchegante, e digo logo, como pouquíssimos. Enfim, tenho motivos de sobra pra me sentir feliz durante esse mês.

3 de março de 2007

"De Fé"


O show dos engenheiros não deixou nadica a desejar. Ambiente perfeito com um ar condicionado confortabilíssimo. Bom preço dos ingressos, aconchego do Max e pra completar tinha lá de cima: o Humberto cantando as minhas canções prediletas. Confesso: me senti contemplada.



De Fé
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger
Sempre que eu preciso me desconectar
Todos os caminhos levam ao mesmo lugar,
É meu esconderijo, o meu altar,
Quando todo mundo quer me crucificar.
Eu só quero estar com você... Ficar com você.
Quando o tempo fecha e o céu quer desabar,
Perto do limite, difícil de agüentar,
Eu volto pra casa e te peço pra ficar...
Em silêncio... só ficar...
Eu tenho muitos amigos, tenho discos e livros,
Mas quando eu mais preciso... eu só tenho você.
Tenho sorte e juízo, cartão de crédito e um imenso disco rígido,
Mas quando eu mais preciso... eu só tenho você.
Quando eu mais preciso... ...eu só tenho você.
Tenho a consciência em paz (só tenho você)
Tenho mais do que eu preciso (só tenho você)
Mas, se eu preciso de paz, eu só tenho você.
Tenho muito mais dúvidas do que certezas.
Hoje, com certeza, eu só tenho você.
Eu tenho medo de cobras,
Já tive medo do escuro...
Tenho medo de te perder.