17 de maio de 2007




"Tenho medo de escrever é tão perigoso.Medo de mexer no que está oculto e o mundo não está à tona. Ele esta submerso em suas raízes de profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio, mas é um vazio terrivelmente perigoso, dele arranco sangue.Sou um escritor que tem medo das ciladas das palavras.As palavras que digo escondem outras.Quais? Talvez as diga.Escrever é como uma pedra lançada num poço fundo"
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"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo".

Por
Clarice Lispector

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